É minha gente... Minas Gerais essa semana se desloca para o SESC Pompéia. É isso mesmo. Hoje começa a Primeira mostra de arte mineira, projeto idealizado por Débora Falabella e pelo grupo 3 de teatro (o qual ela faz parte). Segue abaixo a matéria publicada no Estadão:
Diversidade de gêneros movimenta a cena mineira
Expoentes do samba, do rock, do hip hop e da eletrônica cantam na Pompéia
Terça-Feira, 18 de Novembro de 2008
Lauro Lisboa Garcia
A música de Pernambuco, Rio e Bahia continua na frente quando se fala em visibilidade na mídia. No entanto, como São Paulo, Minas Gerais é uma usina sonora fervilhante, que impressiona não só pela quantidade e diversidade, mas pelo alto nível de produção e criatividade artísticas. A Mostra Contemporânea de Arte Mineira, que começa hoje e vai até domingo no Sesc Pompéia, é apenas um dos significativos tentáculos musicais de Belo Horizonte hoje.Lô Borges (expoente do Clube da Esquina) e Samuel Rosa (da ala pop que despontou nos anos 90), que o público já assimilou, abrem a série de shows hoje. A partir de amanhã, a mostra torna-se uma boa oportunidade para tomar contato com a produção de gente, como os cantores pop e Érika Machado e o promissor Pedro Morais, o compositor e cantor Kiko Klaus, de estilo híbrido e contundente como o do poeta vanguardista Makely Ka, o rapper Renegado, a banda de rock Porcas Borboletas, o projeto de música eletrônica Indiada Magneto, a sambista Aline Calixto, entre outros (veja nesta página).A cena belo-horizontina, como a paulistana, é cosmopolita e, livre dos modismos que as gravadoras impunham até a década passada, hoje reúne influências muito além do Clube da Esquina e personagens vindos de Pernambuco (Klaus), Piauí (Makely) e Rio (Aline e Rodrigo Braga, que forma com o mineiro Dudu Nicácio o talentoso e divertido Dois no Samba).Prestes a gravar seu primeiro CD, Aline, carioca identificada com Minas, como Milton Nascimento, conseguiu dois feitos notáveis este ano. O primeiro foi ter vencido o concurso Novos Bambas do Velho Samba no Carioca da Gema, situado na Lapa, o emblemático reduto do samba no Rio. Como conseqüência disso, foi contratada pela multinacional Warner."É difícil explicar no que o samba mineiro difere do Rio, mas tem uma expressão própria na composição, como a influência do congado nas palmas", diz a cantora. "Minas já despontou para o samba com muitos nomes importantes, como Clara Nunes, Ary Barroso, Ataulfo Alves, João Bosco", lembra. No show de amanhã, Aline faz uma prévia do material que pode gravar: sambas de compositores contemporâneos, como Makely Ka, Rodrigo Maranhão, Rodrigo Santiago, e inéditos da velha guarda de Monarco, Edil Pacheco, Paulo César Pinheiro."A juventude musical mineira tem se articulado muito bem junto, além de fazer música boa. Isso ganha força de movimento e começa a se expandir. Só assim as pessoas de fora vão saber que aqui existe essa cena forte", diz a cantora. O compositor Kiko Klaus faz eco. "O que está rolando aqui é uma valorização das diferenças de cada um. As pessoas se admiram justamente por isso. E existe uma variedade enorme de estilos: muita gente boa de samba, choro, rock."Makely Ka confirma. "Como não tem uma unidade estética, talvez até por um certo isolamento mercadológico, todo mundo se comunica, tem parcerias inusitadas", diz. "Os fóruns realizados aqui são fundamentais para que haja essa articulação da classe musical e maior representatividade política, para que a gente possa não só participar, mas se inserir nas ações de governo", aponta Klaus.Por outro lado, opina Klaus, ainda é preciso fortalecer as relações com a mídia para ganhar visibilidade. Bom material artístico é o que não falta para ele, que acaba de lançar o primeiro CD-solo, O Vivido e o Inventado, em que se firma pleno como melodista, letrista e intérprete. Mesclando ritmos dançantes pernambucanos, mineiros, rock e outras, é uma das boas surpresas de 2008. Nos 30 minutos reservados para sua apresentação na sexta, ele promete mostrar a que veio com garra.Com um pouco mais de tempo na cena, Makely foi, ao lado de Kristoff Silva e Pablo Castro, um dos articuladores de um provável novo movimento da música mineira, com o projeto Reciclo Geral, que resultou no CD A Outra Cidade. Espécie de re-Tropicália mineira, de 2003, a iniciativa reunia, entre outros talentos, Marina Machado, Flávio Henrique, Vitor Santana, Alda Rezende e Érika Machado.Como Klaus, Makely acredita que "Minas hoje talvez tenha a cena musical mais rica e diversificada" do País. Ele diz isso baseado no que tem visto em outras cidades por onde viaja e que também vêm crescendo nesse sentido. "O Reciclo Geral, que era uma mostra de composições, é a nossa referência de início profissional da maior parte da geração que está aqui hoje. Este ano tem mais 30 sendo lançados desse pessoal."Tendo Paulo Leminski, Torquato Neto, Waly Salomão, Jards Macalé, Itamar Assumpção e afins como referências poéticas e musicais, Makely é autor de versos contundentes, e seu CD Autófago é "apenas o suporte do seu conteúdo, que é o que realmente importa: a música", esta por sua vez é uma arrebatadora alavanca para algo que importa ainda mais: sua poesia. Há poucos letristas como ele na música pop atual. É ouvir para crer.
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